Como reconhecimento de uma profícua trajetória científica pavimentada ao longo de mais de 20 anos dedicados ao ensino e à pesquisa na Universidade Federal Fluminense (UFF), o Prof.
Vítor Francisco Ferreira, do Instituto de Química, recebeu da Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação (Proppi) o II Prêmio UFF de Excelência Científica. A honraria foi entregue, no dia 5 de novembro, em cerimônia solene realizada no Teatro da Universidade Federal Fluminense, em Niterói.
Apaixonado pela Química Orgânica, o Prof. Vítor Ferreira utiliza o seu conhecimento científico para produzir moléculas que tenham aplicação prática e social, principalmente, aquelas com atividades farmacológicas providas de potencial para virarem fármacos e medicamentos. “Antes, eu tinha mais a preocupação de desenvolver metodologias de síntese, hoje, dou preferência a fazer moléculas mais aplicáveis, que tenham algum tipo de função” – ressaltou o laureado.
Foto:Lucia Beatriz Torres |
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Cumprimentos na entrega do
II PREMIO UFF DE EXCELÊNCIA CIENTÍFICA |
Paralelamente à sua carreira docente na UFF, o Prof. Vítor Ferreira tem participado ativamente de inúmeras comissões, assessorias, coordenações e editorias em todos os níveis da esfera acadêmica e científica. Atualmente, é bolsista de produtividade 1B do CNPq, consultor científico do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Fármacos e Medicamentos (
INCT-INOFAR), assessor da Diretoria Científica da FAPERJ, entre outras atribuições. É Cientista do Nosso Estado desde a criação desta modalidade de auxílio, em 2000, e membro titular da Academia Brasileira de Ciências, a partir de 2007.
Estimulado pela leitura da enciclopédia “Conhecer”, que era vendida em fascículos nas bancas de jornal, interessou-se por Ciência ainda jovem. Por gostar das aulas de Química no colégio prestou vestibular para o curso na UFRJ, graduando-se no Instituto de Química, em 1976. Sob orientação do Prof. Antônio Ventura Pinto, em 1980, obteve o grau de Mestre em Química de Produtos Naturais no Núcleo de Pesquisa de Produtos Naturais (NPPN/UFRJ). Fez o seu doutorado em Química Orgânica, entre 1980 e 1984, na
University of California e, em 1997, retornou aos EUA para fazer seu pós-doutorado na
University of Oklahoma.
Foto:Lucia Beatriz Torres |
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Discurso de agradecimento do premiado |
Em 1986, Vítor Ferreira ingressou na Universidade Federal Fluminense como Prof. visitante e depois Adjunto I. Em 1993, prestou novo concurso público e tornou-se Professor Titular do Departamento de Química Orgânica. Com 23 anos de carreira completos na instituição, considera que sua maior contribuição para Ciência e Tecnologia foi ter colaborado para a criação do Curso de Pós-Graduação em Química Orgânica na UFF. “Porque é isso que vai ficar e formar muitos outros mestres e doutores” – declarou o Prof. Vítor Ferreira, durante o seu discurso de agradecimento ao prêmio.
Foto:Lucia Beatriz Torres |
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Prof. V ítor Ferreira comemorou o prêmio com esposa e filhas |
Levando em consideração sua notória contribuição científica pelos trabalhos na área de síntese e avaliação de nucleosídeos antivirais, uso de diazocompostos, síntese de naftoquinonas bioativas e desenvolvimento de novos usos para carboidratos abundantes, principalmente em síntese orgânica assimétrica, um júri externo à instituição fluminense, constituído por cientistas de mérito amplamente reconhecido, outorgou ao Prof. Vítor Francisco Ferreira o II Prêmio de Excelência Científica UFF na área de Engenharias, Ciências Exatas e da Terra.
Aplicações químicas para os carboidratos
Bolos, tortas, massas e biscoitos... Os carboidratos além de serem vastamente utilizados na indústria de alimentos, podem representar um enorme salto no campo energético do País, sendo ainda extremamente úteis na indústria de plásticos, farmacêutica e de cosméticos. Aproveitando a oportunidade da entrega do II Prêmio de Excelência Científica UFF, o Prof. Vítor Ferreira concedeu uma entrevista ao Portal dos Fármacos apresentando um rápido panorama sobre o uso de carboidratos na indústria farmacêutica.
ENTREVISTA EXCLUSIVA PORTAL DOS FÁRMACOS
Portal: O que é um carboidrato?
Vítor Ferreira: Os carboidratos são moléculas que são produzidas em grandes quantidades por plantas, inclusive as algas. A maior parte dos carboidratos são compostos de carbono, hidrogênio e oxigênio. A celulose, que é encontrada no algodão, madeira e papel é o carboidrato mais abundante no planeta. A substância produzida em maior quantidade. Os carboidratos têm várias aplicações na indústria pois servem de matéria-prima para fazer novas moléculas.
Portal: Como começou o seu interesse pelos carboidratos?
Vítor Ferreira: Eu comecei, na realidade, fazendo uma química de substâncias que são muito promissoras, as lapachonas. Depois, quando eu voltei do doutorado no exterior tive a oportunidade de trabalhar onde se estudavam os carboidratos. Então, tive que me adaptar a fazer química usando carboidratos e acabei gerando uma linha de carboidrato no meu grupo de pesquisa, mas continuei trabalhando com naftoquinonas e com diazocompostos. Dessa forma, para fazer a síntese de novas moléculas bioativas uso carboidratos, naftoquinonas e diazocompostos.
Portal: Qual a aplicabilidade dos carboidratos na indústria farmacêutica?
Vítor Ferreira: Alguns carboidratos têm vasta aplicação farmacêutica e outros são matérias-primas para a indústria farmacêutica. A glicose, por exemplo, serve de matéria-prima para várias coisas e tem aplicação farmacêutica, como é o caso, por exemplo, do soro glicosado. A glicose é uma fonte barata, ao você fazer outras moléculas, tem um valor agregado muito maior.
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Foto:Lucia Beatriz Torres |
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ETERNO MESTRE PRESTIGIA A LAUREA DE SEU EX-ALUNO
Prof. Antônio Ventura e
Prof. Vítor Ferreira |
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Portal: Qual a vantagem de se utilizar carboidratos em processos químicos?
Vítor Ferreira: Fazer química a partir de moléculas de carboidratos é um desafio muito importante porque são moléculas baratas. Você pega a sacarose que custa 1 real e 30 centavos o quilo e transforma em uma molécula que tem um valor agregado 10, 20, 30 vezes maior, vale a pena. Além disso, os carboidratos são materiais abundantes na natureza e provém de fontes renováveis.
Portal: Por que o uso de carboidratos na indústria está associado à química verde?
Vítor Ferreira: O processo de utilizar carboidrato como fonte de matéria-prima renovável e abundante é a parte que a gente pode chamar de química verde. A questão de se utilizar uma fonte renovável abundante na natureza para fazer um catalisador, por exemplo, é a parte limpa da química, é a parte
green. A química verde consiste em você fazer moléculas a partir de uma fonte renovável, não que isso represente que a molécula resultante seja mais limpa. O produto que você irá gerar a partir de um carboidrato pode ser uma molécula ruim, perniciosa, pode ser um até veneno. Mas, como você está usando uma fonte renovável, matéria-prima abundante, barata e disponível, essas partes positivas são chamadas de química verde.