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Entrevistas
MARATONA DE EVENTOS CIENTÍFICOS COMEMORA 40 ANOS DO INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOMÉDICAS/UFRJ
Por Lucia Beatriz Torres

Prof. Roberto Lente - ICB/UFRJ A medicina avançou muito, nos últimos tempos e o êxito de várias de suas descobertas pode ser atribuído as pesquisas em Ciências Biomédicas. Com atuação de destaque em áreas de ponta como bioengenharia, terapias celulares, neurociências, desenvolvimento de fármacos e biomateriais, o Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), da UFRJ, está completando 40 anos. Para celebrar a data, o ICB preparou uma maratona de eventos acadêmico-científicos para debater “A Biomedicina do Século XXI”.

As comemorações tiveram início no dia 11 de maio, com uma mesa-redonda que discutiu com representantes da Universidade, da Capes, do Ministério da Saúde e da Academia Nacional de Medicina o que a sociedade espera das Ciências Biomédicas. Com essa atividade, o ICB inaugurou o seu programa de eventos comemorativos, que se estenderão ao longo do ano, abordando temas de interesse para toda a comunidade científica.

Criado em 1969, com o objetivo de ministrar, coordenar e integrar o ensino das Ciências Biomédicas, o ICB é responsável pela maior parte da formação básica biomédica dos cursos de Medicina, Ciências Biológicas, Farmácia, Enfermagem, Odontologia, Educação Física, Nutrição, Psicologia, Fisioterapia, Fonoaudiologia e Física Médica. 
PROF. ROBERTO LENT
Diretor do ICB/UFRJ
 

Desde 1994, o Instituto de Ciências Biomédicas possui uma graduação própria, o curso de Ciências Biológicas, modalidade Médica. Seu objetivo é a formação de pesquisadores, profissionais capacitados em desenvolver Ciência e Tecnologia na área biomédica. Atualmente, o ICB possui dois Programas de Pós-Graduação, o de Ciências Morfológicas, coordenado pelo Prof. Vivaldo Moura Neto e o de Farmacologia e Química Medicinal, que está sob a responsabilidade do Prof. François Noel.


Em seu Programa de Extensão, o ICB investe claramente na educação e na divulgação científica. Há 6 anos, nas férias, oferece o curso “Mergulho no corpo” a professores de escolas públicas, abordando temas como a morfologia e a fisiologia corporal. O projeto “Ciência sobre rodas” usa uma caminhonete-laboratório que visita os estudantes, in loco, apresentando o conhecimento científico de forma lúdica e interessante. A revista Bio é a contribuição on line do Instituto para a divulgação virtual da Ciência.

Recentemente, o ICB teve os seus méritos científicos, na área da terapia celular, reconhecidos pelo Ministério da Saúde. O Instituto irá receber uma dotação de quase 5 milhões de reais para implantar, no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, um laboratório nacional de células tronco embrionárias. Uma instalação que irá permitir fornecer, para todo o país, essa linhagem de células produzida em laboratório, para ser usada tanto em pesquisa como em terapias celulares.

Para conhecer um pouco mais da história dos 40 anos do Instituto de Ciências Biomédicas e saber o que poderemos esperar do ICB daqui para a frente, o Portal dos Fármacos entrevistou o Prof. Roberto Lent, o seu atual diretor.


Portal: O que são as Ciências Biomédicas?
Roberto Lent: As Ciências Biomédicas abrangem todos os segmentos das Ciências Biológicas que têm algum tipo de relação com a Medicina. Essa é uma definição muito ampla e abrangente. Porque tem partes da Biologia em que a gente não visualiza, de imediato, uma relação muito clara com a Medicina, mas que depois de alguns anos ou décadas produzem alguma descoberta com aplicabilidade médica. Adotamos uma grande amplitude na definição para não sermos muito sectários e, depois, perdermos desenvolvimentos científicos que vêm da pesquisa básica e que a gente não prevê antecipadamente que terão, mais adiante, alguma aplicação.

 

Portal: Como o ICB foi fundado?
Roberto Lent: O ICB foi fundado em 1969, em plena ditadura militar. Nessa época, tudo no Brasil tinha que ser homogêneo. Em 1968, houve uma reforma universitária imposta pelo governo militar e o Ministério da Educação achou que a configuração das universidades deveria ser igual em todo o Brasil. Então, foi abolida a Cátedra vitalícia e foram criados os departamentos. O que foi uma coisa boa. Em todos os Centros de Ciências da Saúde e organizações equivalentes das universidades federais e estaduais foram criados Institutos de Ciências Biomédicas. Às vezes, chamados de Centro de Ciências Biológicas ou Centro de Ciências Biomédicas, mas a concepção era a mesma.Esses ICBs tinham o objetivo de se responsabilizar pelas disciplinas b ásicas dos cursos profissionais de Medicina, Enfermagem e assim por diante.  Então, para criar os ICBs foi necessário, por exemplo, reunir os professores de anatomia da Enfermagem, com anatomia da Medicina, fisiologia da Enfermagem com fisiologia da Farmácia. Houve um alto grau de artificialismo nessa construção.



Portal: Quais foram as principais dificuldades enfrentadas na época?
Roberto Lent: Como o ICB não surgiu naturalmente do desenvolvimento científico, da vontade dos professores e sim por um decreto do Ministério da Educação, o Instituto teve um percurso acidentado, no início de sua construção. Por exemplo, o Instituto de Biofísica já existia, tinha sido fundado pelo Prof. Carlos Chagas Filho, não fazia sentido aboli-lo. Então, ele se tornou participante do ICB, no aspecto didático. O Instituto de Biofísica passou a ser responsável pelo Departamento de Biofísica e Fisiologia do ICB. Ele fazia parte do ICB só para a graduação, mas tinha uma independência para todos os outros assuntos.

Nesses primeiros tempos, a presença do Instituto de Biofísica no ICB foi muito benéfica, porque esse instituto tinha uma grande atuação científica que os outros Departamentos, que vieram para o ICB, não tinham na época. Essa predominância científica do Instituto de Biofísica permitiu que a pesquisa se instalasse e se desenvolvesse dentro do ICB. Foi muito positivo, mas do ponto de vista institucional, “anômalo”. Em dezembro de 2007, o Conselho Universitário aprovou o novo regimento do ICB, que o reformatou. O Instituto de Biofísica não faz parte mais do ICB,  bem como o Instituto de Bioquímica Médica, que surgiu de um Departamento do ICB de forma autêntica, da vontade dos seus professores e do crescimento da pesquisa, do ensino e de suas atividades. Cresceu e ficou com condições de se propor como um instituto próprio.


Portal: Aconteceram outros problemas intrínsecos a essa reforma universitária imposta pelo governo militar?
Roberto Lent: Um dos grandes problemas foi a separação entre o ciclo básico e o ciclo clínico. Essa foi uma consequência imprópria dessa reforma universitária de 68.  Se por um lado ela permitiu fomentar a pesquisa nos institutos básicos, por outro os afastou da sua relação com as profissões, principalmente com a Medicina. Então, agora nessa discussão toda dos 40 anos, o ICB está querendo se reaproximar do Hospital Universitário, da Faculdade de Medicina e das demais unidades profissionais. Ao fazer isso, o ICB está reorientando a sua missão e passando, de fato, a ser um Instituto de Ciências Biomédicas, quer dizer, um Instituto que seria uma interface entre a Biologia e a Medicina.



Portal: Como pode ser feita, na prática, a aproximação da parte básica com a clínica?
Roberto Lent: No bojo dessa reformatação, o ICB propôs ao Hospital Universitário e a Faculdade de Medicina transferir 90% dos seus laboratórios de pesquisa para o prédio do Hospital. Depois de um longo processo de discussão e negociação, o Ministério da Saúde concedeu recursos para fazer o projeto executivo de engenharia dessa transferência. A nossa expectativa é que a gente possa licitar uma empresa para começar as obras ainda no final de 2009, para inaugurarmos as novas instalações do HU no fim de 2010.

Vão pra lá a pesquisa, a pós-graduação e administração. Continuarão no CCS os Programas de graduação e extensão. No espaço que ficar vago, estamos discutindo um grande e ambicioso programa de aulas práticas para a graduação, ligado a um projeto de divulgação científica, formação continuada de professores do ensino público básico e de profissionais de saúde como médicos, enfermeiros e etc. Nesse âmbito, temos projetos como fazer um museu do microscópio, um museu de embriologia tridimensional e atividades práticas em parceria com outras unidades do CCS, como o Instituto de Bioquímica Médica, a Faculdade de Farmácia e outras.


Portal
: O que o Sr. espera das Ciências Biomédicas e o que a Sociedade pode esperar do ICB?
Roberto Lent: As Ciências Biomédicas têm um potencial muito grande que está sendo demonstrado hoje. Fazemos aqui no ICB e nos outros Institutos co-irmãos uma série de pesquisas relacionadas com a doença de Alzheimer, câncer do sistema nervoso, lesões de nervo periférico e de medula. Realizamos ainda desenvolvimento de fármacos de interesse médico, terapias celulares como o estudo de células tronco embrionárias e adultas.

Então, esse desenvolvimento das Ciências Biomédicas, mais voltado para a saúde e para a medicina, já está sendo visualizado atualmente. A gente pode imaginar que isso se desenvolva ainda mais com novos tipos de terapia, por exemplo, utilizando nanotecnologia, dispositivos que possam contribuir para terapias diretamente na célula. As Ciências Biomédicas têm esse potencial e o Instituto vai querer participar de todos esses processos.



Portal: Por que para o programa de comemorações dos 40 anos do ICB foi escolhido o tema “A Biomedicina no século 21”?
Roberto Lent: O objetivo é refletirmos sobre os rumos do nosso Instituto e da nossa atividade daqui para a frente. Queremos discutir quais os rumos que a gente pode antever para a Biomedicina e para o Instituto nos próximos anos e décadas. Eu antevejo uma maior aproximação com a Medicina, uma integração básico-clínica entre as nossas atividades de pesquisa e a prática clínica, e a constituição de uma rede de pesquisa translacional dentro do ICB.



Portal: O que é pesquisa translacional?
Roberto Lent: Pesquisa translacional é um termo que se dá para a pesquisa que vai desde a bancada e experimentos com animais, até a beira do leito e experiências clínicas. É um tipo de pesquisa que se desenvolve horizontalmente, desde o ratinho até o experimento de aplicação com doentes. E agora com a previsão das novas instalações no Hospital Universitário fica mais possível fazer essa integração, pois ficaremos mais próximos do leito do paciente e dos profissionais da área de saúde.


Portal: Como será composto o programa de eventos dos 40 anos ICB?
Roberto Lent: Teremos Simpósios Científicos; Escola de Altos Estudos para a Pós-graduação, com professores estrangeiros e de outros estados do Brasil; Jornada conjunta com os Programas de Pós-graduação do ICB; Semana de Biomedicina, que é tradicionalmente organizada pelos próprios alunos de graduação; ICB de Portas Abertas, onde receberemos, em um programa de visitas, escolas públicas nos laboratórios do Instituto, entre outras atividades programadas até o final do ano. Ao todo, serão 16 atividades para celebrar os 40 anos do ICB, porque a gente considera que, mais importante do que fazer uma festa é aproveitar a comemoração para promover eventos acadêmicos que propiciem a vinda de pesquisadores de fora para interagir com nossos alunos e professores.



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